Sexualidade, um assunto de família?

September 5, 2017
Autor(es)
Dr. João Teixeira de Sousa

Se, tradicionalmente, os comportamentos sexuais podiam estar mais limitados face a aos contextos e suas possibilidades, hoje, com a amplitude do digital, a vivência da sexualidade está à distância de um clique e de um avatar.  Os desafios colocados hoje aos educadores são tão vastos como as manifestações da sexualidade. Para João Teixeira de Sousa parece existir nos dias de hoje uma maior e melhor comunicação entre os adolescentes e os seus pais, do que entre estes e os seus pais quando eram eles os adolescentes.  “Mas muito mais importante do que aquilo que os pais sabem é o que fazem e como agem perante aquilo que sabem (ou mesmo o que não lhes é dado a saber) acerca dos filhos. A perceção que os adolescentes têm de como os pais os ajuizarão dita muito daquilo que vai ser a comunicação entre estes, sendo também de grande importância para a leitura que fazem das suas vivências sexuais.”

Comportamentos que falam

Segundo Paul Watzlawick, entre seres humanos, é impossível não comunicar. Todo o comportamento transporta uma mensagem mesmo quando a pessoa intencionalmente não o deseja (por ex. não responder a uma pergunta). Sendo todo o comportamento comunicação não existe a sua antítese. A atitude dos pais face às questões da sexualidade favorece ou não o contexto para a conversação aberta. Quando pais e filhos não estão a comunicar estão já a trocar mensagens.

João Teixeira de Sousa afirma que “se nos circunstanciarmos ao que é dito (ou talvez, não dito), poderíamos porventura dizer que há, em muitas famílias, uma espécie de autismo no que se refere ao tema do sexo. É um assunto presente-ausente para pais e filhos. Existe, é porventura sabido, mas a afirmação explícita do mesmo gera incómodo, um desconforto desconcertante. E é um mal-estar bidirecional. Também a sexualidade dos pais pode ser fator de constrangimento para todos”. Mas nem sempre é assim.

Melhor comunicação

No que respeita à sexualidade, há condições e fatores que facilitam a comunicação entre pais e filhos. Para João Teixeira de Sousa estes incluem:

– A existência de uma ligação emocional e relacional sólida intrafamiliar;

– A perceção dos jovens de que a procura da comunicação por parte dos mais velhos serve o intuito de proteção e cuidado, e não é uma forma de censura, controlo ou impedimento ao processo de autonomia;

– Famílias cuja emoção mais básica é a de amor, em que a sua história é marcada por atitudes de respeito e tolerância por parte dos pais, e da defesa da autonomização dos mais jovens.

Segundo o terapeuta, estas mesmas condições, que promovem a boa comunicação no que toca à sexualidade, também o serão para os diferentes temas que inquietam os adolescentes. “Uma família que reúne características emocionais e relacionais como as que descrevi estará já a comunicar sobre sexualidade, através de uma expressão salutar dos afetos e oferecendo aos mais novos um referencial positivo no que toca à transmissão dos mesmos.”

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