A crença (ou o desejo?) de estas dimensões estarem fundidas pode ser causa, algumas vezes, de muita confusão, sofrimento e atitudes paradoxais. O espaço clinico é, nesse aspeto, um local privilegiado para observar essa realidade.
Senão, vejamos:
Um casal conta não ter envolvimento sexual há cerca de 3 anos. A razão da consulta é outra. A ausência do desejo não era o problema. Tinham acordado procurar ajuda psicoterapêutica, sem partilhar esta dimensão da sua vida. Receavam que esta ausência de contacto íntimo/sexual fosse patologizada por médicos e terapeutas.
Não é caso para menos. Também estes não estão imunes à pressão de um padrão em que o sexo é uma obrigatoriedade para uma relação ser considerada de amor. Meses antes, talvez um ano, outro casal tinha a primeira consulta. À queixa de ausência de desejo sexual da parte dele (razão de sofrimento para os dois), havia então uma angústia maior. Numa anterior abordagem de casal fora posta em causa a solidez da ligação afetiva no casal. Mais: fora apontada como causa única para a alteração do desejo sexual do homem. Não ficaram imunes ao impacto da sentença. Sentiam, no entanto, amor, partilhavam a intimidade e reconheciam a importância do outro na sua vida.
Numa crise conjugal, um casal com dois filhos, decide, por iniciativa da mulher, ter relações sexuais todos os dias. Já não acontecia desde a fase do enamoramento, aos 18 anos de idade. Mesmo que não existisse vontade, ou que o cansaço do dia impusesse outros desejos, tinham acordado não terminar o dia sem que o encontro sexual acontecesse. “Se há Amor, há desejo”, aprendera. Porventura, sentindo o desejo dele, sentir-se-ia também amada. Uma espécie de cura pelo sexo que, neste caso, agudizou a maleita. O desinteresse pelo ato sexual aumentou, assim como a frustração. Tornara-se difícil comunicar e o verdadeiro problema não era reparado: estava insegura relativamente ao amor e admiração da parte do marido.